As mudanças que computadores podem gerar na sua vida

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Mutação

Por: Fernanda Pompeu

 

O ano,1988. Meu primeiro computador, um clone IBM, vindo do Paraguai, subiu o elevador do prédio – na Capote Valente, Pinheiros – embalado num cobertor. Parecia um bebê gigante. Enorme mesmo. A impressora matricial ocupou metade da mesa. A CPU era um sisudo trambolho. O monitor piscava um incômodo fósforo verde gerando imagens em preto e branco. Abri o apê para visitações de amigos. Queria exibir a novidade. Pouca gente tinha computador em casa. Eu era dona de um.

Batizei-o com o nome de Borges, em homenagem ao genial contista de Buenos Aires e do mundo. A geringonça ocupou o centro do meu quarto de trabalho e da minha atenção. Dispus objetos tendo ele como referência. A tecnologia era a máquina propriamente dita. Ligar, esperar o DOS rodar, laborar, desligar exigiam ritual litúrgico. Para a minha necessidade, o Borges funcionava como sofisticadíssima máquina de escrever.

Por essa época, redigia roteiros para série Mundo da Lua da TV Cultura. Quando terminava o trabalho levava pessoalmente até a emissora. Era o jeito. A revolução começou, algum tempo depois, com o windows, o mouse e, é claro, com a exterminadora do passado – a internet. Nesse momento, a tecnologia não era mais a máquina sozinha. Era a rede. Mas não havia conexão sem fio, o computador todavia estava preso à mesa. Passarinho na gaiola.

Depois, numa aceleração absurda, os componentes foram diminuindo de tamanho e aumentando a qualidade. Troquei o trambolho pelo notebook. O computador já não ocupava o centro da mesa, passeava pelos lados. A partir daí ocorreu uma mutação. Com notebook e wi-fi, eu não precisava mais do meu quarto de trabalho. Pude escrever na mesa da cozinha. Isso pôs boas minhocas na minha cabeça. Abri a porta da gaiola.

A imaginação voou, a produtividade saltou. Mas o mais fantástico estava por vir. Tablets, smartphones e o 4G tornaram a mobilidade arroz com feijão. Ficou possível fazer o que precisa ser feito dentro do trem do metrô, na mesa da padoca, no banco da praça. A tecnologia é quase invisível. Já não olhamos para grandes máquinas. Sim para o aparelhinho que cabe na palma da mão. Qualquer cantinho é escritório, estúdio, birô. A gaiola sumiu.

Via: Mente aberta